28 novembro 2006

RASGA MEUS VERSOS!

Hoje a literatura é para muitos, parece, uma espécie de substituto da religião. Os escritores tornaram-se como que os santos desta nova idolatria; para a sua canonização basta conseguirem algum sucesso. Não importa a que preço moral, porque as pessoas já se habituaram a prescindir disso – que é o fundamental, até para uma arte digna desse nome.
A minha estima por Bocage nunca foi muito grande, mas, naquele soneto que ele só ditou por já o não poder escrever e que começa «Já Bocage não sou…», faz um apelo à juventude que muitos leitores e escritores deviam ouvir hoje com atenção: «Rasga meus versos, crê a eternidade!»
A gente imagina que ele estivesse a pensar nos seus escritos mais obscenos, mas há por aí muita página e muito espectáculo de gosto tão depravado que é indigno de vir ao público. Para tudo isso, vale o apelo premente: «rasga», não leias! E, se ninguém lhe der atenção, a moda passa!
Veja-se o soneto:

Já Bocage não sou, à cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento.
Eu aos céus ultrajei, o meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa, tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura!

Eu me arrependo: língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui!... A santidade
Manchei!... Oh, se me creste, gente impia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

25 novembro 2006

CAMINO A LA SANTIDAD

Santidad es el nombre de nuestra vocación de bautizados. Al decirle a un catecúmeno: "Vas a recibir el bautismo", significa lo mismo que él se pregunte: "¿Voy a volverme santo?” No hay escapatoria para nadie. "Esta es la voluntad de Dios, tu santificación" (1 Ts 4,3) "Sed perfectos como vuestro Padre celestial es perfecto". (Mt 5,48)

Era voluntad del Padre que Cristo se consagrase en la cotidianeidad: ¿Qué significa esto? Esto quiere decir que ahora debo comprender que para sentirme santo no he de hacer cosas extraordinarias, me basta vivir el presente haciendo con amor la voluntad de Dios que se manifiesta, día a día, momento por momento. Domingo Savio demandó un día a Don Bosco: "¿Qué cosa debo hacer para hacerme santo? Don Bosco no le aconsejó hacer penitencia ni largas plegarias. Le dice simplemente: "Haz bien tus deberes y ayuda a tus compañeros a ser más buenos".

Librémonos de la falsa idea que teníamos sobre lo que Dios exige de nosotros: Dios es Padre bueno y compasivo, conoce nuestra fragilidad, nuestra incertidumbre, nuestro temor: sabe que somos limitados. ¡Atentos a cualquier escrúpulo que nos haga perder la paz! Leamos lo que escribe San Francisco de Sales: "Les he dicho muchas veces que, en la práctica de la virtud no necesitamos ser muy meticulosos, necesitamos proceder serenamente, francamente y simplemente, con libertad, a la buena, en grosso modo... el deseo de tener en la vida a nuestro Señor, es tener un corazón abundante y grande, pero humilde, dulce y constante". (A Madame de Chantal, 1-11-1604)
Imitemos a la Beata Alejandrina, ella convirtió su vida ordinaria en gestos extraordinarios de amor a Dios, lo alababa en los gestos ordinarios que tenía para sus semejantes, al aceptar la vida diaria que tenía que vivir, paso a paso, minuto a minuto, cada sufrimiento era un acto de amor a Dios. Como ella, abramos nuestro corazón a la palabra de Jesús: Ven, siervo bueno y fiel, ya que has sido fiel en lo poco, yo te confiaré lo mucho: ven a tomar parte en el gozo de tu Señor (Mt 25,21)

Yolanda Astrid

21 novembro 2006

DOIS POEMAS DE ALBERTO CAEIRO

O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.

Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.

Para Caeiro, «o vento só fala do vento»; isto é, negando o pensamento («pensar é não ver»), nega igualmente a capacidade humana de descobrir analogias, simbologias nas coisas – o que é a base da literatura em geral e em particular da poesia, e que era razão de tormento para Fernando Pessoa («Tudo para mim é incoerência e mutação. Tudo é mistério, e tudo é prenhe de significado»). Por isso, «o luar através dos altos ramos» não é mais que «o luar através dos altos ramos» (tautologia).
Mas quem não apreciar esta «maravilha» vai certamente apreciar este segundo poema:

Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.

A nós também nos não há-de importar muito o que diz este poeta, que só teve existência literária e que se colocou aquém da natureza humana ao negar-lhe o pensamento, a memória, ao desinseri-la do tempo, etc.

16 novembro 2006

VERDADE, AMOR, RAZÃO, MERECIMENTO

Quando Camões começou a escrever poemas, já o sonho renascentista dera o que tinha a dar. Ele é filho do Maneirismo, o que é bem importante. O soneto abaixo é claramente maneirista e um dos melhores do autor.
Depois de reconhecer as limitações dos filósofos perante o desconcerto do mundo, e mesmo dos teólogos que não atendem ao concreto do homem, o poeta chega à grande constatação existencial: «o melhor que tudo é crer em Cristo».

Verdade, Amor, Razão, Merecimento
qualquer alma farão segura e forte;
porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte,
têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento
e não sabe a que causa se reporte;
mas sabe que o que é mais que vida e morte,
que não o alcança humano entendimento.

Doutos varões darão razões subidas,
mas são experiências mais provadas
e por isso é melhor ter muito visto.

Coisas há aí que passam sem ser cridas
e coisas cridas há sem ser passadas,
mas o melhor que tudo é crer em Cristo.

Luís de Camões

12 novembro 2006

A CRÍTICA SOCIAL OU DOS COSTUMES N'«OS MAIAS»

Fernando Pessoa e os seus heterónimos justificavam que aqui me ocupasse deles bastante longamente; mas fica para outra ocasião. Hoje vou transcrever também o que coloquei na Wikipédia sobre Os Maias, no mesmo dia em que lá pus aquela nota sobre a ética dos heterónimos. Antes disso porém convém lembrar que os críticos valorizam este romance de Eça como uma obra singular na produção literária europeia da segunda metade do século XIX; mas isso não me parece que invalide o que se segue:

O romance veicula sobre o país uma perspectiva muito derrotista, muito pessimista. Tirando a natureza (o Tejo, Sintra, Santa Olávia…), é tudo uma «choldra ignóbil».
Predomina uma visão de estrangeirado, de quem só valoriza as «civilizações superiores» – da França e Inglaterra, principalmente.
Os políticos são mesquinhos, ignorantes ou corruptos (Gouvarinho, Sousa Neto…); os homens das Letras são boémios e dissolutos, retrógradas ou distantes da realidade concreta (Alencar, Ega…: lembre-se o que se passou no Sarau do Teatro da Trindade); os jornalistas boémios e venais (Palma…); os homens do desporto não conseguem organizar uma corrida de cavalos, pois não há hipódromo à altura, nem cavalos, nem cavaleiros, as pessoas não vestem como o evento exigia, são feias.
Para cúmulo de tudo isto, os protagonistas acabam «vencidos da vida».
Mais do que crítica de costumes, o romance mostra-nos um país – sobretudo Lisboa – que se dissolve, incapaz de se regenerar.
Quando o autor escreve mais tarde A Cidade e as Serras, expõe uma atitude muito mais construtiva: o protagonista, que bem se podia chamar Carlos da Maia, regenera-se pela descoberta das raízes rurais ancestrais não atingidas pela degradação da civilização, num movimento inverso ao que predomina n’Os Maias.
De facto, o país tem hoje conceituados desportistas, jornalistas que se podem medir com os seus parceiros europeus ou mundiais, a economia avança com os seus altos e baixos comuns, etc., tudo ao arrepio do que a miopia queirosiana parecia anunciar.

11 novembro 2006

A ÉTICA ABERRANTE DOS HETERÓNIMOS

Actualmente ando a leccionar a poesia de Fernando Pessoa. Desde há alguns anos, quando isso acontece, costumo chamar a atenção para alguns aspectos aberrantes das posições éticas dos heterónimos. Eu penso que isto deve surpreender, não tanto os alunos, mas alguns professores que lhes acompanham o estudo, pois, como é sabido, vigora uma tal devoção pelos literatos que parece escandaloso assinalar-lhes defeitos.
Mas este ano fui um pouco mais além: fui à Wikipédia e incluí no artigo do poeta uma secção com parte daquilo que pretendia transmitir aos meus alunos. Pela experiência que tenho daquele meio, esperava uma reacção de recusa. Com alguma surpresa, o que se passou ficou aquém das expectativas mais pessimistas. Alguém introduziu umas alterações ao texto e desviou a orientação das conclusões, mas o principal ficou lá.
O que lá tinha colocado era sensivelmente isto:

Nas Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, escreve Fernando Pessoa que «Álvaro de Cam­pos não tem sombra de ética; é amoral, se não positiva­mente imoral (…) A ideia da perda da inocência duma criança de oito anos (Ode II, ad finem) [Ode Triunfal] é-lhe positivamente agradável, pois satisfaz duas sensações muito fortes – a crueldade e a luxúria».
Esta postura aberrante da Campos, que percorre os seus poemas sensacionistas-futuristas, é paralela a outras atitudes de semelhante teor presentes nos poemas de Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Vejam-se estes versos do «mestre» Caeiro, no poema Ontem o pregador de verdades dele:

Haver injustiça é como haver morte.
Eu nunca daria um passo para alterar
Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.

Ricardo Reis por seu lado revela-se ainda mais selvático. Na ode Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia, dois jogadores de xadrez prosseguem a sua partida, mesmo sabendo que a destruição e a morte campeiam na sua cidade que o inimigo invadiu. E sentencia este heterónimo epicurista:

Quando o rei de marfim está em perigo
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O sangue pouco importa.

Isto é fratricida; nenhuma estética pode sobrepor-se a uma solidariedade elementar.

Ao colocar o texto sobre Os Maias, houve um problema de que resultou ser apagada esta mensagem. Daí ela aparacer agora com a data errada.

07 novembro 2006

APRESENTAÇÃO

Eu chamo-me José Ferreira e sou o responsável inicial desta página. Ensino desde há 30 anos, quase sempre no secundário e quase sempre só Português.
Alguns dos temas que tenciono desenvolver aqui, já os abordei, ao menos em parte, por exemplo no blogue da Nova Evangelização Católica; mas haverá sem dúvida temas novos.
Quanto à Beata Alexandrina, bastará percorrer um pouco o seu Sítio Oficial para se perceber quanto me tenho dedicado ao seu estudo e divulgação.
Não tenciono marcar aqui uma presença muito frequente; pretendo apostar mais no médio prazo que no imediato.
Tenho esperança de conseguir alguns colaboradores entre os colegas que já contactei, mas a ver vamos.
Conto naturalmente com a protecção daquela que coloquei como madrinha da página, a «doutora» Beata Alexandrina.
Agradeço ao meu amigo Afonso Rocha ter-me iniciado o blogue.

José Ferreira

06 novembro 2006

PROFESSORES COM A BEATA ALEXANDRINA

PROFESSORES COM A BEATA ALEXANDRINA

A Beata Alexandrina foi declarada por Jesus «escola de toda a humanidade» e «doutora das ciências divinas». Mas muitas outras ocasiões ela foi associada à tarefa educativa.V

Vejam-se estas citações iniciais do livro da Prof.ª Eugénia Signorile Alexandrina, quero aprender contigo!:

Tu vieste ao mundo para ser escola de toda a humanidade.

Em ti aprendem as donzelas a guardar para Mim o lírio branco da sua pureza;

em ti aprendem os velhos e novos, ricos e pobres, sábios e ignorantes;

em ti aprendem todos a amar-Me no sofrimento, a levar a sua cruz. S (05-12-47)

A tua vida, minha filha, é uma escola de amor, é uma escola de dor.
Eu quero, eu quero, brado bem alto que na tua vida aprenda toda a humanidade: é uma escola sábia, é uma escola sublime, é uma escola toda, toda da vida divina. S (28-03-52)

O teu quarto, a tua vida, quantos ensinamentos dão ao mundo!

É uma escola divina que ensina aos homens; é a luz de Deus que ilumina nas trevas. S (11-02-55)

A Beata Alexandrina viveu rodeada de professores: foi professor o Pe. Mariano Pinho, o Pe. Humberto Pasquale, o Mons. Vilar, o Cón. Molho de Faria; era Prof. de Coimbra o Pe. Dr. Sebastião Cruz; foi tratada por um professor como o Prof. Dr. Carlos Lima; teve a assistência constante da Prof.ª Çãozinha, a amizade da Prof.ª Angelina Ferreira…

Sob a inspiração desta admirável figura, pretende-se criar um espaço de reflexão sobre a educação e a cultura. Há tanta meia verdade e tanta falsidade em circulação e tão poucos as denunciam, as desmascaram!

Será aceite nesta página o contributo de qualquer educador católico empenhado.

José Ferreira