28 julho 2007

MISERERE MEI!...

A história da sanha anticristã contemporânea que se manifestou na Europa especialmente a partir da segunda metade do séc. XIX é também a história, pouco divulgada, da conversão de nomes notáveis. Lembrem-se Baudelaire, Paul Claudel, Francis Jammes, Charles Dubos, etc.; o próprio Renan mostrou arrependimento à hora da morte. Entre nós também houve regressos célebres, como os de Guerra Junqueiro, Gomes Leal e outros. Eça de Queirós, que na segunda parte de A Cidade as Serras revela uma aproximação à tradição católica do nosso país, terá morrido a rezar segundo autores fidedignos.
O soneto Miserere mei!... (Tende piedade de mim!...) que se transcreve, de Gomes Leal (1868-1921), é o poema do convertido que encontra a verdade pelas mãos da Mãe de Deus – Nossa Senhora das Dores, no caso.
A epígrafe «Les Mères! Les Mères!» (As Mães! As Mães!) vem do Fausto de Goethe, certamente na célebre tradução francesa de Gérard Nerval.


MISERERE MEI!...

Les Mères! Les Mères!
Faust

Às risadas entrei numa igreja às matinas.
— Conservava-se ateu meu coração corrupto. —
Eis vejo sobre o altar o estranho ser de luto,
Rasgado o coração por sete espadas finas.

Chorei. Prostrei-me em terra. — Essas formas divinas
Não as pude fitar de rosto calmo e enxuto!
Era a mão maternal... era o braço impoluto...
Que afastavam meus pés das ervas das ruínas!

Era o bafo de mãe, a indulgência, o carinho,
Era a asa que afaga o implume passarinho,
A mão que enxuga a testa ao menino, a dar ais...

Ó Mãe triste! Ó Mãe terna! Ó Mãe dos olhos castos!
Acolhe esta alma em pranto, hirta ao frio, de rastos,
- Qual triste enjeitadinha à porta de seus pais!