Desde há anos que eu noto que a cantiga Ai flores, ai flores do verde pinho, atribuída a D. Dinis, mas certamente muito anterior a ele, podia suportar uma leitura «a lo divino».
Esta expressão espanhola significou originalmente a imitação, em registo religioso, de um tema poético popular. No presente caso, tratar-se-ia apenas duma interpretação, duma leitura pascal: «o meu amigo» seria Jesus morto e ressuscitado. E a Páscoa diz Primavera, flores.
Parece que destoa aquele «mentiu», mas pode-se interpretar como referindo a terrível desilusão causada pela morte ignominiosa do Mestre, que os seus amigos não entendiam. «Ai Deus, e u é?", perguntar-se-iam eles, desorientados.
Mais difícil de encaixar ainda seria a invocação das «flores do verde pino»; mas quem exigiria tal rigor teológico a esta cantiga «primitiva»?
Veja o leitor:
- Ai flores, ai flores do verde pinho,
Se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquel que mentiu do que me há jurado?
Ai Deus, e u é?
- Vós me preguntades polo vosso amigo,
E eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amado,
E eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é san'e vivo
E ser vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é viv'e sano
E ser vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
14 fevereiro 2007
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