Eu li pouco da obra de Saramago e pouco sobre ela. Mas pouco é diferente de nada, e além disso não sou propriamente um principiante na leitura de obras de ficção narrativa. Em particular, li o artigo do Prof. Carlos Reis que vem na Biblos Enciclopédica Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa; nas entrelinhas dele, creio que este professor de Coimbra vai deixando transparecer que a sua admiração pelo autor do Memorial do Convento não é muito grande. Bem vistas as coisas, não me parecem de valor garantido as qualidades que lhe atribui.
Mas ao lado de Carlos Reis, há os delirantes. Há até quem aproxime Blimunda de Nossa Senhora e atribua a Saramago a criação duma espécie de nova eucaristia!
Vindo porém a coisas mais comuns, as autoras do manual que uso, aqui já referidas, ao expor as «marcas essenciais» da linguagem literária de Saramago, começam a sua lista por esta: «a ausência de pontuação convencional, sendo a vírgula o sinal de pontuação de maior relevância, marcando as intervenções das personagens, o ritmo e as pausas». A segunda vai pelo mesmo caminho: «o uso subversivo da maiúscula no interior da frase».
Se estas fossem as principais, logicamente a seguinte deveria ser a de que ele não dá erros ortográficos (salvo algumas gralhas[1])… Depois vêm contudo outras já mais criticamente válidas.
Mas o que não se encontra na lista destas «marcas essenciais» é a referência ao vocabulário do tipo de «merda e mijo».
Num país de longa tradição e maioria católica, no ano anterior os alunos do 12.º ano tiveram de comentar esta original opinião de Óscar Lopes: «Memorial do Convento […] traça do século XVIII uma visão extraordinária».
Mas se romance se ocupa só de cerca dum quarto de século, como há-de ele dar a visão do século todo? E depois de D. João V não houve o Marquês de Pombal? Barroco e Neoclassicismo é tudo o mesmo? Distorcendo esta narrativa tanto a verdade histórica, onde pode estar o carácter extraordinário dessa visão?
Eu não sou historiador, mas apelo para um, o autor do artigo sobre D. João V na Enciclopédia Verbo. Há real parecença entre este D. João V da história e o de Saramago? Entre o padre Bartolomeu da história e o do romance, penso que medeia um abismo…
A palavra saramago designa originalmente uma erva daninha[2]. Eu conheci-a muito bem nos campos minhotos, a ela e à soagem, que andavam quase sempre juntas. Mas o dicionário do meu computador só apresenta saramago com maiúscula…
[1] Na edição que uso (21.ª), na página 145, ao fundo, aparece este título em latim «Iuris ecclesiastici libri tre, Colectanea doctorum tam veteram quam recentiorum in ius pontificum universum […]»; mas as palavras tre e veteram estão erradas, por tres e veterum.
[2] Digo daninha, porque foi sempre assim que a vi tratada, por infestar as culturas; se noutros lugares pessoas a usavam para alimento, eu nunca tive essa experiência.
Mas ao lado de Carlos Reis, há os delirantes. Há até quem aproxime Blimunda de Nossa Senhora e atribua a Saramago a criação duma espécie de nova eucaristia!
Vindo porém a coisas mais comuns, as autoras do manual que uso, aqui já referidas, ao expor as «marcas essenciais» da linguagem literária de Saramago, começam a sua lista por esta: «a ausência de pontuação convencional, sendo a vírgula o sinal de pontuação de maior relevância, marcando as intervenções das personagens, o ritmo e as pausas». A segunda vai pelo mesmo caminho: «o uso subversivo da maiúscula no interior da frase».
Se estas fossem as principais, logicamente a seguinte deveria ser a de que ele não dá erros ortográficos (salvo algumas gralhas[1])… Depois vêm contudo outras já mais criticamente válidas.
Mas o que não se encontra na lista destas «marcas essenciais» é a referência ao vocabulário do tipo de «merda e mijo».
Num país de longa tradição e maioria católica, no ano anterior os alunos do 12.º ano tiveram de comentar esta original opinião de Óscar Lopes: «Memorial do Convento […] traça do século XVIII uma visão extraordinária».
Mas se romance se ocupa só de cerca dum quarto de século, como há-de ele dar a visão do século todo? E depois de D. João V não houve o Marquês de Pombal? Barroco e Neoclassicismo é tudo o mesmo? Distorcendo esta narrativa tanto a verdade histórica, onde pode estar o carácter extraordinário dessa visão?
Eu não sou historiador, mas apelo para um, o autor do artigo sobre D. João V na Enciclopédia Verbo. Há real parecença entre este D. João V da história e o de Saramago? Entre o padre Bartolomeu da história e o do romance, penso que medeia um abismo…
A palavra saramago designa originalmente uma erva daninha[2]. Eu conheci-a muito bem nos campos minhotos, a ela e à soagem, que andavam quase sempre juntas. Mas o dicionário do meu computador só apresenta saramago com maiúscula…
[1] Na edição que uso (21.ª), na página 145, ao fundo, aparece este título em latim «Iuris ecclesiastici libri tre, Colectanea doctorum tam veteram quam recentiorum in ius pontificum universum […]»; mas as palavras tre e veteram estão erradas, por tres e veterum.
[2] Digo daninha, porque foi sempre assim que a vi tratada, por infestar as culturas; se noutros lugares pessoas a usavam para alimento, eu nunca tive essa experiência.
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