21 novembro 2006

DOIS POEMAS DE ALBERTO CAEIRO

O luar através dos altos ramos,
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.

Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.

Para Caeiro, «o vento só fala do vento»; isto é, negando o pensamento («pensar é não ver»), nega igualmente a capacidade humana de descobrir analogias, simbologias nas coisas – o que é a base da literatura em geral e em particular da poesia, e que era razão de tormento para Fernando Pessoa («Tudo para mim é incoerência e mutação. Tudo é mistério, e tudo é prenhe de significado»). Por isso, «o luar através dos altos ramos» não é mais que «o luar através dos altos ramos» (tautologia).
Mas quem não apreciar esta «maravilha» vai certamente apreciar este segundo poema:

Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa.

A nós também nos não há-de importar muito o que diz este poeta, que só teve existência literária e que se colocou aquém da natureza humana ao negar-lhe o pensamento, a memória, ao desinseri-la do tempo, etc.

1 comentário:

Anónimo disse...

como ousa...???