António José Saraiva escreveu uma vez que A. Cunhal, para o seu partido, era como o Papa: ele falava e logo os seus seguidores o repetiam reverentemente. Parece que agora a comparação vale para J. Saramago. Ele diz e imediatamente, sem cuidados críticos, muitos o repetem com devoção.
Mas, como «houve muitos valentes antes de Agamemnão»[1] (Horácio), também houve muitos sábios antes de Saramago. A única atitude respeitadora face a ele – tão altivo e tão afirmativo – é a de exigência crítica. É essa que pretendo agora que vou começar a acompanhar os meus alunos na leitura de o Memorial do Convento.
Vejam-se estas frases, escritas por José Fernandes Pereira, a respeito do mesmo convento, na História da Arte Portuguesa, ed. do Círculo Leitores, 1995, vol. III, págs. 61-62:
No primeiro documento oficial, alvará de Dezembro de 1711, D. João V manda construir «por esmola», em Mafra, um convento dedicado a Santo António que seria entregue à província da Arrábida que disponibilizaria treze religiosos para nele assistirem. (…) os estatutos dos Arrábidos eram muito claros quanto ao modo de aceitar, por esmola, a doação de novos conventos, e também quanto ao programa construtivo: «os Conventos, que se houvessem de aceitar, ordenava que fossem em tudo, e de tudo muito pobres, os materiais de adobes, e as madeiras toscas, excepto as da Igreja, e Sacristia, na qual não haveria ornamento de tela, ou seda, senão de lã...». Os Arrábidos foram sempre extremamente zelosos no cumprimento destas disposições que, como se verá, de modo algum foram respeitadas em Mafra.
(…) Por tradição e pelos estatutos, os Arrábidos aceitavam, por esmola, novos conventos desde que fossem os frades a gerir a sua construção que, nenhum caso, poderia fugir de uma tipologia e de um carácter de simplicidade e pequenez há muito tipificado. Ora o alvará de 1714 revela sibilinamente que a obra a erguer em Mafra seria régia, controlada desde Lisboa pelo rei e que aos frades competia apenas aceitar o presente, ainda que envenenado.
Fá-lo-ão com pouca convicção e após parecer jurídico do arcipreste da Patriarcal de Lisboa, expresso em 1730, e segundo o qual os Arrábidos podiam sem escrúpulo aceitar obra tão luxuosa para a qual a «Real Magnificência» não tinha sequer que lhes solicitar consentimento.
Mas, como «houve muitos valentes antes de Agamemnão»[1] (Horácio), também houve muitos sábios antes de Saramago. A única atitude respeitadora face a ele – tão altivo e tão afirmativo – é a de exigência crítica. É essa que pretendo agora que vou começar a acompanhar os meus alunos na leitura de o Memorial do Convento.
Vejam-se estas frases, escritas por José Fernandes Pereira, a respeito do mesmo convento, na História da Arte Portuguesa, ed. do Círculo Leitores, 1995, vol. III, págs. 61-62:
No primeiro documento oficial, alvará de Dezembro de 1711, D. João V manda construir «por esmola», em Mafra, um convento dedicado a Santo António que seria entregue à província da Arrábida que disponibilizaria treze religiosos para nele assistirem. (…) os estatutos dos Arrábidos eram muito claros quanto ao modo de aceitar, por esmola, a doação de novos conventos, e também quanto ao programa construtivo: «os Conventos, que se houvessem de aceitar, ordenava que fossem em tudo, e de tudo muito pobres, os materiais de adobes, e as madeiras toscas, excepto as da Igreja, e Sacristia, na qual não haveria ornamento de tela, ou seda, senão de lã...». Os Arrábidos foram sempre extremamente zelosos no cumprimento destas disposições que, como se verá, de modo algum foram respeitadas em Mafra.
(…) Por tradição e pelos estatutos, os Arrábidos aceitavam, por esmola, novos conventos desde que fossem os frades a gerir a sua construção que, nenhum caso, poderia fugir de uma tipologia e de um carácter de simplicidade e pequenez há muito tipificado. Ora o alvará de 1714 revela sibilinamente que a obra a erguer em Mafra seria régia, controlada desde Lisboa pelo rei e que aos frades competia apenas aceitar o presente, ainda que envenenado.
Fá-lo-ão com pouca convicção e após parecer jurídico do arcipreste da Patriarcal de Lisboa, expresso em 1730, e segundo o qual os Arrábidos podiam sem escrúpulo aceitar obra tão luxuosa para a qual a «Real Magnificência» não tinha sequer que lhes solicitar consentimento.
[1] Vixere fortes ante Agamemnona multi.
Sem comentários:
Enviar um comentário