10 março 2007

DOIS POEMAS DA BEATA ALEXANDRINA

A cultura literária da Beata Alexandrina era reduzidíssima, mas os seus escritos erguem-se apesar de tudo, muitas vezes, a um alto nível poético.
Embora haja casos de textos que escreveu em verso tradicional, não deixou nenhuns em verso livre, realidade literária que sem dúvida desconhecia. Desde cedo porém os editores italianos puderam verificar que a dinâmica interna, o ritmo de muitos fragmentos seus pedia uma disposição na página que não fosse a da mera prosa. É por isso que, na sequência do que eles fizeram, também eu apresento neste visual os dois “poemas” abaixo.
O primeiro faz-me lembrar o tom oralizante, aparentemente prosaico de alguns trechos de Álvaro de Campos, como o destes versos do
Aniversário: «Pára, meu coração, não penses! / Deixa o pensar na cabeça!»
No segundo, a imagem da escola, que parece mesmo remeter para a sala de aula, também a acho original para o tratamento do tema amoroso, que usualmente se socorre de símbolos mais padronizados.
Evidencia-se também em ambos um muito são radicalismo, de quem só se satisfaz quando chegou ao extremo.

Fala, fala, meu coração,
diz ao menos nestas linhas quanto desejas amar o teu Jesus!
Fala, fala, coração meu,
diz ao teu Jesus que só a Ele queres e que só nele queres descansar!
Não canses, não deixes de falar do amor!
O amor que é amor, verdadeiro e puro amor,
não pode calar-se,
não pode deixar de manifestar-se,
tem que falar e provar que ama sempre:
ama de dia e de noite, ama na dor e na alegria, ama na exaltação
e, se é amor verdadeiramente puro, ama mais ainda quando é humilhado.
Oh, amor, como tu és grande e forte!


Ó Jesus, onde poderei encontrar a escola do vosso amor?
É com certeza no vosso Divino Coração,
é aí que eu posso aprender a amar-Vos
e com aquele amor por o qual o meu coração suspira.
Ó Jesus, ó Jesus, dai-me lugar,
deixai-me entrar para lá viver,
Vos amar,
para de amor morrer.

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