27 março 2007

E SE O OUTRO TIVESSE FICADO EM PRIMEIRO LUGAR?

Para este resultado, para a vitória de Salazar, arranjaram-se as explicações mais convenientes. Mas, e se tivesse sido o outro a ocupar o primeiro lugar? Ele, o discípulo de Lenine e de Estaline? Ele, o amigo de Fidel Castro e tantos outros grandes ditadores?
Eu continuo a pensar que a Esquerda só vê o que lhe convém.
Até já se culpa a educação! Mas, se os programas oficiais já exaltam tanto as excelências deste fantástico regime em que vivemos, que mais se lhe há-de acrescentar?
Eu sugeria que se acrescentassem: a relação honesta dos desmandos da Primeira República, o modo como ela tratou a Igreja e o fenómeno nascente de Fátima, as realizações do Estado Novo, o seguidismo esquerdista dos seus opositores…
Que se acrescentasse também como o pós-25 de Abril esteve a caminho de descambar numa totalitarismo mais duro que o de Salazar; que se culpasse quem disso foi responsável (em vez de querer criar pseudo-heróis); que se identificassem as grandes debilidades do actual regime, sem descarregar as culpas delas para o vizinho; que na disciplina que lecciono – o Português – se exigisse um maior pluralismo quer nos manuais quer nas propostas de leitura vindas do Ministério, etc., etc.
Veja-se se muitas das palavras que em 19 de Abril de 2003 o pensador brasileiro Olavo de Carvalho escreveu sobre Saramago em O Globo (http://www.olavodecarvalho.org/semana/030419globo.htm) não assentariam bem ao perdedor, com os indispensáveis acertos:

O sr. José Saramago, que é quase tão inteligente quanto parece, levou quatro décadas para descobrir que Fidel Castro não presta. O sr. Luiz Inácio, que não parece nada inteligente e o é tanto quanto parece, talvez demore mais alguns meses, caso não se veja nas mesmas circunstâncias que levaram o escritor português a essa deprimente conclusão. Aconteceu que, após ter sonhado todo esse tempo com o ditador cubano, fazendo dele o herói de não sei quantas epopéias libertárias, uma bela manhã o romancista despertou com a estranha sensação de que o limite de sua amável complacência para com o homicídio em massa tinha sido ultrapassado. Fuzilar dezessete mil pessoas estava bem, era decente, não feria a moral nem os bons costumes. Mas dezessete mil e três, faça-me um favor! Era de tirar o sono de qualquer dorminhoco. Chocado com a tripla excrescência, Saramago enfim acordou, e já acordou brabo, acusando Fidel de ter estragado os seus sonhos.
É verdade que em épocas anteriores o sono do Nobel português tinha resistido incólume a doses bem maiores de truculências. Todo o mundo lusófono o ouviu roncando enquanto Stalin matava vinte milhões de russos, Mao sessenta milhões de chineses, Pol-Pot dois milhões de cambojanos. Mas esse aparente paradoxo tem explicação fisiológica: os jovens dormem melhor que os velhos, e o sr. Saramago, embora ninguém jamais suspeitasse disso, foi jovem antes de chegar à idade senil.

Sobre a imagem: Capelinha das Aparições de Fátima dinamitada (http://www.santuario-fatima.pt/portal/arquivo.php?item=1525) durante a Primeira República (06-03-1922).

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