17 março 2007

O PORTAL DA IGREJA DO CONVENTO DE CRISTO DE TOMAR

A referência que fiz a Sevilha a propósito de Paio Peres Correia sugere-me umas palavras sobre «o maior arquitecto português do séc. XVI», João de Castilho, que trabalhou na obra da catedral desta cidade, donde foi depois sucessivamente chamado: para a Catedral de Braga, para a Matriz de Vila do Conde, para o Convento de Cristo em Tomar, para o Mosteiro dos Jerónimos, para a Fortaleza de Mazagão. É um homem pouco divulgado, certamente em parte ao menos por ser natural de Castillo, na Biscaia, e não português.
Chamado em 1515 para a igreja do Convento de Cristo em Tomar, depois de provavelmente ter passado por Viseu, «esculpe», em réplica à famosa janela de Diogo de Arruda, o belíssimo pórtico, que data e assina. Cabe-lhe também abobadar o templo. Sobre o portal de Tomar, exprime-se assim o Prof. Pedro Dias:

Comecemos pelo portal. Aí, junto à base do lado direito, João de Castilho deixou a sua assinatura e a data de conclusão da obra em iniciais e abreviaturas: «João de Castilho construiu em 1515» (ver imagem ao fundo). E uma construção que se filia na corrente peninsular que a historiografia tradicional tem chamado de isabelina, isto é, do tempo de Isabel, a Católica, num gótico final complicado, redundante, com elementos dificilmente conciliáveis e, em geral, sem grandes volumes. Notam-se, no entanto, algumas novidades, um certo barroquismo, que terá de se imputar ao contributo dos canteiros locais e até à adopção da estética lusitana, ali tão patente na obra dos Arruda.
O vão da porta tem terminação semicircular, com arquivoltas constituídas por colunelos finos e intercolúnios com decoração variada, em que alternam os grutescos proto-­renascentistas com a funda folhagem, na qual os pedreiros introduziram pássaros, amores, etc.
As estruturas góticas ainda estão presentes, mas com uma complexidade maior que o habitual, e, se esta portada ainda não atingiu o estádio do que classificamos como manuelino, respira já de um ar que o anuncia para breve. A parte superior faz lembrar composições coevas castelhanas, com pilaretes ou agulhas a subirem na vertical e a dividirem a página de fundo em três corpos,
nas quais se sobrepõem mísulas-dosséis que suportam e abrigam esculturas sacras de talhe rude, mas de bom efeito plástico. Um dossel avança a proteger toda a construção, com uma pequena abóbada de nervuras e o arco belamente debruado com cairéis em forma de corais. No eixo distinguem-se a figura de Nossa Senhora com o Menino ao colo e, inferiormente, a esfera armilar que dois amores sustentam sobre uma urna de feição renascentista. Atente-se ainda na ligação do portal às paredes laterais, conseguida por João de Castilho através da complicação das bases dos botaréus e da colocação de enrolamentos estriados horizontais sem qualquer outra função que a decorativa.

Imagens: são três pormenores do portal da igreja do Convento de Cristo. No último vê-se a assinatura de João de Castilho referida pelo Prof. Pedro Dias.

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