Acho muito curiosa a quantidade de teatros que existia na Palestina ao tempo de Jesus Cristo. Havia-os pelo menos em Cesareia Marítima, em Bet-Shean, na Samaria e em Jerusalém (sobre estas cidades, informe-se neste vasto site: http://www.bibleplaces.com/index.htm). E se passássemos para o outro lado do Jordão havia logo o de Gerasa (a «Pompeia do Oriente») e outros.
Que levaria as autoridades do tempo a erguer tão dispendiosos equipamentos de cultura, como hoje lhes chamaríamos? Verdadeiramente, não sei. É possível que os livros de Flávio Josefo esclareçam isto, mas nunca tive tempo para os ler a eito (veja-os aqui em inglês: http://members.aol.com/fljosephus/works.htm). Mas não me custaria muito a crer que se tratasse de monumentos à frivolidade.
Nos Evangelhos estes teatros nunca são mencionados. Mas talvez se encontrem lá alguns indícios deles.
Quando Jesus chama hipócritas aos fariseus, e fá-lo frequentemente, está a chamar-lhes (ao menos segundo o texto grego) actores, farsantes, que é o que a palavra quer dizer na origem.
Mas vejam-se também estas suas palavras:
A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes?
Assemelham-se a crianças que, sentados na praça, se interpelam umas às outras:
«Tocámos flauta para vós e não dançastes!
Entoámos lamentações, e não chorastes!» Lc 7, 31-32
Estas crianças, pelo menos assim parece, estão representar. Estarão a imitar actores?
No mundo romano são conhecidos dois textos famosos, embora de datas posteriores, em que se associam os espectáculos cénicos à frivolidade, à alienação – como hoje acontece na televisão, principalmente.
O mais célebre é de Juvenal. Escreve ele:
... [populus Romanus] qui dabat olim
imperium, fasces, legiones, omnia, nunc se
continet atque duas tantum res anxius optat,
panem et circenses.
Em português:
... [o povo romano] que noutro tempo distribuía o poder, a administração, as legiões, tudo, agora, voltado para si, deseja só duas coisas, pão e espectáculos.
(Sátiras, 10, 78-81)
O segundo é de Plínio, o Moço, que se encontra em Roma e aproveitava o tempo para trabalhar. Numa carta, explica como consegue concentrar-se:
"Quemadmodum" inquis "in urbe potuisti?" Circenses erant, quo genere spectaculi ne levissime quidem teneor. Nihil novum, nihil varium, nihil, quod non semel spectasse sufficiat.
Em português:
- Como pudestes fazer isso em Roma? – perguntas. – Havia jogos de circo e nada me atrai para esse género de espectáculos. Não há neles nada de novo, nada de original, nada que não baste vê-los uma única vez.
Já se pensaria mais ou menos assim na Palestina do tempo de Jesus? Sendo os teatros foco de cultura helenística, pagã, é natural que a atitude mais divulgada fosse de franca recusa, como afrontamento ao culto do Deus único.
Nos Evangelhos estes teatros nunca são mencionados. Mas talvez se encontrem lá alguns indícios deles.
Quando Jesus chama hipócritas aos fariseus, e fá-lo frequentemente, está a chamar-lhes (ao menos segundo o texto grego) actores, farsantes, que é o que a palavra quer dizer na origem.
Mas vejam-se também estas suas palavras:
A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes?
Assemelham-se a crianças que, sentados na praça, se interpelam umas às outras:
«Tocámos flauta para vós e não dançastes!
Entoámos lamentações, e não chorastes!» Lc 7, 31-32
Estas crianças, pelo menos assim parece, estão representar. Estarão a imitar actores?
No mundo romano são conhecidos dois textos famosos, embora de datas posteriores, em que se associam os espectáculos cénicos à frivolidade, à alienação – como hoje acontece na televisão, principalmente.
O mais célebre é de Juvenal. Escreve ele:
... [populus Romanus] qui dabat olim
imperium, fasces, legiones, omnia, nunc se
continet atque duas tantum res anxius optat,
panem et circenses.
Em português:
... [o povo romano] que noutro tempo distribuía o poder, a administração, as legiões, tudo, agora, voltado para si, deseja só duas coisas, pão e espectáculos.
(Sátiras, 10, 78-81)
O segundo é de Plínio, o Moço, que se encontra em Roma e aproveitava o tempo para trabalhar. Numa carta, explica como consegue concentrar-se:
"Quemadmodum" inquis "in urbe potuisti?" Circenses erant, quo genere spectaculi ne levissime quidem teneor. Nihil novum, nihil varium, nihil, quod non semel spectasse sufficiat.
Em português:
- Como pudestes fazer isso em Roma? – perguntas. – Havia jogos de circo e nada me atrai para esse género de espectáculos. Não há neles nada de novo, nada de original, nada que não baste vê-los uma única vez.
Já se pensaria mais ou menos assim na Palestina do tempo de Jesus? Sendo os teatros foco de cultura helenística, pagã, é natural que a atitude mais divulgada fosse de franca recusa, como afrontamento ao culto do Deus único.
Imagens: a de cima representa o teatro de Cesareia Marítima, a de baixo o de Bet Shean.
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