15 março 2007

PAIO PERES CORREIA NA CONQUISTA DE SEVILHA

É por iniciativa de Fernando III que, a partir de 1246, se iniciam os pre­parativos para o assalto a Sevilha. Será uma acção da maior envergadura. A Crónica Geral de Espanha, que segue um texto anterior da responsabilidade de Afonso X, destaca o papel de primeiro plano que aí desenvolveu o Grão-Mestre de Sant’Iago Paio Peres Correia.
A sua acção verificou-se não só no teatro das operações, mormente na margem direita do Guadalquivir, mas no próprio conselho em que se decidiu a estratégia a adoptar. Veja-se a narrativa que regista o conselho de Fernando III, havido em Jaén, «com seus ricos homees sobre qual o logar hiria ou que maneira teerya na guerra»:

E a esto cada huu dava sua divisa, segundo seu entender. Mas o meestre dom Paae Correa e outros boos cavaleiros e muy sabedores de guerra disseron a el rey que fosse cercar Sevilha e que, se a cobrasse, que per ella cobrarya todo o al e que seria mais sen trabalho e con mais pequena custa e sem muyta lazeira d’alguus. Mas esto contradisseron outros, dizendo que Sevilha era logar grande e muy pobrado e que non seria muy ligeiro de cercar mas pero se el rey tal cousa quisesse cometer, que primeiro compria correr e estragar a terra per alguas vezes e, depois que a bem quebrantada tevessem e os mouros bem apremados, que entõ seria bem de a hir cercar. Mas o meestre dõ Paae Correa e os outros que primeiro conselharon o cerco de Sevilha disserõ a el rey que o tempo que posesse em corrimentos e fazer cavalgadas e cercar outros pequenos logares que melhor era de o poer sobre Sevilha e que, tomandoa, cobrava todo o al e que, por esta razon, melhor era de acabar todo per huu afam e per huu tempo que por muytos. E demais que poderia seer, se lhes dessem tal vagar, que elles se avisariã de guisa que seria depois muy forte cousa de começar e que por esto melhor seria de começar esto cedo que tarde. E, ditas estas palavras e outras muytas, acordousse el rey con todolos outros en este cõselho.

Vejam-se agora dois parágrafos da mesma crónica (cap. DCCCXXVI) em que se relatam feitos deste português durante o cerco:

(...) o meestre dom Paae Correa e os outros ricos homees que com el estavon da outra parte do ryo, segundo ja ouvistes, cavalgarom sobre Golles e cõbaterõna e entrarõna per força e inataron todollos mouros que dentro acharom e levarõ muy grande algo que hy acharom. E, em se tornando per Tyriana, sayiu a elles gram cavalarya de mouros e muitos peõoes com elles e ouverõ com elles gram batalha. E foron os mouros vencidos e mortos muytos delles e os cristãaos tornarõsse muy hõrados pera seu arreal.
E, estando em elle, os mouros sahiam a elles cada dia muy amehude e seguyãnos muyto e fazianlhes grande dano em bestas e homees de pee. Mas o meestre e os outros ricos homeens deitaraonlhe hua cilada. E os mouros, sayndo como suyam, trabalharon por se poer a salvo. Mas, ante que se acolhessem, ficarõ hy trezentos mortos e muytos presos. E seguirõnos ataa o castelo. E, des aquel dya em deante, foron os mouros escarmentados de non seguir tanto a hoste dos cristãaos.

Imagens: em cima, cavaleiro de Sant'Iago contemporâneo de Paio Peres Correia; em baixo, La Giralda, a torre árabe da Catedral de Sevilha.

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